Estudo aponta maior concentração de especialistas na rede privada de saúde
Pela primeira vez, as mulheres se tornarão maioria entre os médicos no Brasil. Neste ano já irão representar 50,9% do total de profissionais, de acordo com a Demografia Médica do Brasil
No Brasil, a maior parcela de médicos especialistas está concentrada na rede privada e na região Sudeste. Assim, os pacientes com plano de saúde têm o, proporcionalmente, a mais cirurgias que os atendidos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conforme o estudo Demografia Médica no Brasil.
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O número de médicos especialistas no Brasil (59,1%) está abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 62,9%.
O estudo analisou os três procedimentos mais realizados no Brasil:
- remoção do apêndice,
- retirada da vesícula biliar e
- correções de hérnias da parede abdominal.
No setor privado, a apendicectomia, cirurgia de urgência mais comum no Brasil, a porcentagem foi de 100 por 100 mil habitantes - 34,4% superior à verificada no SUS (74,45 por 100 mil).
Com relação a colecistectomia os beneficiários do plano de saúde representam uma taxa 58,7% maior que a do SUS: 312,38 contra 196,81 cirurgias por 100 mil habitantes. Apesar disso, o SUS realizou 66% das intervenções.
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Segundo o levantamento, a maior disparidade foi registrada nas cirurgias de hérnias da parede abdominal: 401,41 procedimentos por 100 mil habitantes na rede privada - número 86,6% superior ao do SUS (215,07 por 100 mil).
A pesquisa revela que 70% dos cirurgiões atuam nos dois setores — público e privado. Apenas 10% atuam exclusivamente no SUS.
Outros 20% trabalham somente no setor privado, isso demonstra uma intensa concentração de especialistas na rede privada de saúde, muitas vezes em instituições que não prestam atendimento ao SUS.
Acerca do panorama da saúde pública nacional, o estudo aponta que 8% das cirurgias são canceladas por falta de equipe, principalmente de anestesistas. Os dados reforçam a necessidade de ampliar o o às cirurgias pelo SUS.
A concentração de especialistas e o aumento da participação de mulheres na Medicina
O levantamento prevê que as mulheres se tornarão maioria entre os médicos no Brasil, pela primeira vez. Já neste ano, elas irão representar 50,9% do total de profissionais.
A porcentagem de crescimento da participação feminina é expressiva, em comparação com 2010, quando elas correspondiam a 41% da população médica. Até 2035, as mulheres serão 56% do total de médicos no país, de acordo com as projeções.
Além do número de profissionais, a quantidade de alunas também tem crescido no curso de Medicina. Em 2010, as mulheres representavam 53,7% dos matriculados nos cursos de graduação em Medicina, a porcentagem aumentou para 61,8% em 2023.
Segundo a Demografia Médica no Brasil, as mulheres predominam em apenas 20 das 55 especialidades médicas - a Dermatologia lidera o ranking, com 80,6%.
Dentre as 55 especialidades regulamentadas no País, sete delas concentram 50,6% do total de especialistas:
- Clínica Médica,
- Pediatria,
- Cirurgia Geral,
- Ginecologia,
- Obstetrícia,
- Anestesiologia,
- Cardiologia,
- Ortopedia e
- Traumatologia.
Conforme o Ministério da Saúde, os resultados do estudo são essenciais para orientar “estratégias de avanço na área da saúde e a ideia da pasta é aproveitar a capacidade instalada — muitas vezes ociosa — dos hospitais e ambulatórios privados”.
“Para garantir o tempo adequado para o atendimento médico especializado, resolver problemas de diagnóstico e realizar cirurgias, nós precisamos dar um o além na parceria com as estruturas privadas onde se concentram os médicos especialistas hoje”, afirmou o ministro da Saúde Alexandre Padilha.
Sobre a pesquisa Demografia Médica no Brasil
O estudo Demografia Médica no Brasil reúne informações nacionais e internacionais sobre formação, distribuição e atuação de médicos, com projeções para os próximos anos.
Os dados utilizados se baseiam nos registros da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM/MEC) e das sociedades de especialidades vinculadas à Associação Médica Brasileira (AMB).
A pesquisa é conduzida há 15 anos pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), e realiza pela primeira vez a edição de 2025 com o Ministério da Saúde.
Além disso, a pesquisa contou com a colaboração técnica e científica da Universidade de São Paulo, do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), da Associação Médica Brasileira (AMB), do Ministério da Educação (MEC) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).