Quem foi dom Aloísio, o bispo que morou no Ceará e recusou ser papa
Cardeal que atuou 22 anos na Arquidiocese de Fortaleza já foi eleito papa, mas rejeitou a função; conheça dom Aloísio Lorscheider
Um novo papa foi eleito para comandar a Igreja Católica nesta quinta-feira, 8, sucedendo a Francisco, que faleceu no último dia 21 de abril. Quando um cardeal alcança dois terços dos votos, ele é questionado se quer aceitar o cargo.
Segundo a tradição, o Espírito Santo guia a escolha do sumo pontífice e os eleitos geralmente aceitam a missão. No entanto, eles têm a possibilidade de negar o trabalho, como fez o bispo brasileiro dom Aloísio Lorscheider, que atuou em Fortaleza.
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Conheça o bispo que recusou ser papa.
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Dom Aloísio Lorscheider nasceu no Rio Grande do Sul
Aloísio Lorscheider foi filho de José Aloysio Lorscheider e de Verônica Gerhard Lorscheider, nascido em 8 de outubro de 1924. É natural de Linha Geraldo, município de Estrela, no Estado do Rio Grande do Sul. Foi ordenado sacerdote a 22 de agosto de 1948.
Depois de 14 anos, o então papa João XXIII o nomeou bispo de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, em 3 de fevereiro de 1962.
Dom Aloísio Lorscheider foi bispo de Fortaleza entre 1973 e 1995
Em sua trajetória, ou 22 anos como arcebispo da Arquidiocese de Fortaleza, de 1973 a 1995. Neste período, dedicou atenção particular ao clero.
Permaneceu à frente da Igreja Particular de Fortaleza até 12 de junho de 1995, sendo transferido para a Arquidiocese de Aparecida, em São Paulo. Também foi presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) entre 1971 a 1975, e de 1975 a 1978.
Dom Aloísio Lorscheider já foi sequestrado em Fortaleza
Em março de 1994, dom Aloísio e sua equipe visitaram o Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS). Na época, a visitação da pastoral carcerária era comum e o arcebispo seguiu para a visita com um cardeal, dois bispos auxiliares e um vigário episcopal.
O local era conhecido pelas denúncias de deficiências físicas, maus-tratos, péssimas condições de higiene e falta de assistência médica e a equipe religiosa decidiu se reunir com os detentos.
No auditório, dom Aloísio foi surpreendido por um dos detentos, que o imobilizou com uma faca no pescoço. Iniciava-se ali uma negociação que durou 13 horas entre os detentos e as forças de segurança do Estado.

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Os reféns - o bispo entre eles - saíram com os criminosos em um carro forte até a cidade de Quixadá. Um percurso de 12 horas, como dom Aloísio disse à época, com "esperança" apesar do medo e das ameaças. Alguns reféns foram liberados no caminho, mas o então cardeal fez questão de ser o último.
Na semana seguinte, dom Aloísio voltou ao local para lavar os pés dos detentos. Ele perdoou publicamente os envolvidos na ação.
Dom Aloísio Lorscheider participou de dois conclaves para escolher um papa
No ano de 1978 ocorreram dois conclaves em menos de dois meses. E o cardeal Aloísio participou dos dois e ainda foi eleito em um deles.
O primeiro ocorreu em agosto de 1978 e culminou com a eleição do papa João Paulo I. Mas o pontífice ficou apenas 33 dias no cargo, quando morreu em decorrência de um ataque cardíaco.
Então ocorreu o segundo conclave, em que o brasileiro Aloísio Lorscheider foi eleito papa, mas rejeitou a nomeação. Os cardeais fizeram uma nova votação, que terminou com a eleição de João Paulo II.
Por que dom Aloísio Lorscheider recusou ser papa?
O conclave de 1978 foi emblemático após o papa João Paulo I ar tão pouco tempo no cargo. Tinha-se a preocupação de ser cuidadosos para não terem que realizam o terceiro conclave naquele ano.
Foi justamente esta a preocupação de Aloísio, que já havia feito várias cirurgias por problemas cardíacos. Ele decidiu não ser papa argumentando que “a Igreja não aria a perda de mais um papa em tão pouco tempo", relata Frei Betto.
João Paulo II teve um dos maiores mandatos de um papa e faleceu em 2005. Já Aloísio faleceu apenas dois anos depois, em 23 de dezembro de 2007, no Hospital São Francisco, em Porto Alegre, vítima de falência múltipla dos órgãos após um mês de internação.