Casos de gravidez na adolescência caem 45% no Ceará em 10 anos

Casos de gravidez na adolescência caem 45% no Ceará em 10 anos

Já a taxa de mães com mais de 30 anos aumentou na última década, mostrando uma tendência das mulheres escolherem ter filhos mais tarde

De 2013 a 2023, houve redução de 45,3% no total de mães com até 15 anos no Ceará. As estatísticas são do Registro Civil, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 16.

O número geral de nascimentos também sofreu redução, de 13,1%. Em 2013, 129.887 crianças nasceram no Estado. Já em 2023, foram 112.845.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Aquelas que tiveram filhos com até 15 anos eram 1.313 em 2013. Em 2023, o número caiu para 718 nascimentos registrados de mães adolescentes.

Ao todo, 26.184 crianças nasceram de mães com até 19 anos em 2013, representando 20,1% de todos os nascimentos. Dez anos depois, a proporção é de 12,2%, com 13.774 bebês de mães adolescentes e jovens.

Para a médica Zenilda Vieira Breno, coordenadora do serviço de adolescência na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), a redução é positiva, fruto de políticas públicas e parcerias entre setores da sociedade, como governos e universidades.

“A gravidez na adolescência acontece sem o planejamento, sem um desejo, na maioria das vezes. A repercussão é principalmente na educação. Muitas delas param de estudar porque têm o bebê. A gente já fez inclusive um trabalho mostrando que muitas só voltam a estudar depois de cinco anos [do parto]”, explica.

Além disso, os riscos para a saúde são evitados com a gravidez planejada, com pré-natal de qualidade e mais tarde na jornada reprodutiva.

“Nos extremos da vida reprodutiva, tanto naquelas menores de 15 anos como nas maiores de 40 anos, o risco é muito grande de eclâmpsia, de convulsão por pressão alta. É como se o corpo ainda não tivesse se preparado para aquele parto. Então, esse trabalho para diminuir a gravidez na adolescência tem sido feito mundialmente”, afirma.

Desigualdades regionais

O Ceará é o segundo estado do Nordeste com menor proporção de mães com até 19 anos e taxa de mães adolescentes da região, atrás apenas do Rio Grande do Norte.

As desigualdades regionais são visíveis nos dados, com estados do Nordeste e Norte tendo maior taxa de adolescentes com filhos do que Sudeste e Sul.

“Nós somos uma região ainda muito pobre. Muitas crianças não vão à escola ainda, há um nível de pobreza muito grande, de educação muito baixo. Isso faz com que as meninas não tenham esse ideal de crescer na vida, de trabalhar, de ter suas profissões”, analisa Zenilda.

A profissional chama atenção também para a diferença na proporção de mães adolescentes de Fortaleza, que não chega a 10%, e de alguns municípios do Interior, que têm taxas maiores que 12%.

Violência sexual e a dificuldade de o ao aborto legal

Conforme a lei brasileira, adolescentes de até 14 anos não podem consentir ao sexo. Atos sexuais com indivíduos com menos idade são considerados estupro de vulnerável. Com isso, meninas que engravidam nessa faixa etária podem ter o ao aborto legal - o que prova ser muito mais difícil, na prática.

“Hoje já existe mais conhecimento dos direitos dessa menina de fazer o aborto legal. Mas ainda há muita rejeição por parte da família, por parte dos profissionais da saúde que não aceitam fazer esse aborto, mesmo sendo direito da adolescente por lei”, afirma a médica.

Por isso, a estratégia é focar na prevenção. Métodos contraceptivos de longa duração, como o Dispositivo Intrauterino (DIU) e implante de “chip”, conhecido como Implanon, são os mais indicados para adolescentes.

“É um método que não depende daquele uso diário da pílula ou o medo de a mãe descobrir. A gente sempre aconselha que ela use também, junto com o implante, o método de barreira, que a gente chama camisinha, para prevenir doenças sexualmente transmissíveis”, diz.

Aumenta taxa de mães com mais de 30 anos

A quantidade de mulheres que tiveram filhos depois dos 30 anos, por outro lado, aumentou. Foram 43.526 mães com mais de 30 anos em 2023 e 37.251 na mesma faixa etária em 2013. O aumento foi de 16,8%.

No Brasil, a proporção de crianças geradas por mulheres a partir de 30 anos foi de 23,9% em 2003 para 39% em 2023. Especificamente entre mães com 40 anos ou mais, a marca dobrou, indo de 2,1% para 4,3%. Em 2023, foram 109 mil nascimentos de mães nessa faixa etária.

Zenilda acredita que isso mostra um cenário no qual mulheres estão planejando ter filhos mais tarde, atingindo maiores patamares de escolaridade e protagonismo no mercado de trabalho.

No entanto, ela alerta para que a gravidez não seja tão adiada para evitar complicações. “Logicamente que o pré-natal bem feito, com acompanhamento de perto, vai diminuir essa chance de pressão alta, de diabetes, mas é um muito importante que a gente lembre que não deve retardar muito essa gravidez”, diz.

Atualizada às 17 horas

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a istrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar