Localização de líderes cearenses do CV na Rocinha foi revelada após delação de membro da facção
Pelo menos 30 alvos tiveram seus locais revelados em uma contribuição premiada fornecida no final do ano ado por um integrante da organização criminosa preso no município de Santa Quitéria, no Ceará, durante as eleições municipais
A localização dos líderes cearenses da facção criminosa Comando Vermelho (CV), na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, foi revelada por meio de uma delação premiada feita no final do ano ado por um integrante da organização ao Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE).
A delação do membro aconteceu após sua prisão no município de Santa Quitéria, a 223,46 quilômetros de Fortaleza, durante as eleições municipais do ano ado. Ao todo, o integrante revelou a localização de 30 lideranças do CV na Rocinha, em uma região identificada como ‘Dionéia’, localizada na parte superior da comunidade.
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As informações foram obtidas pelo O POVO durante entrevista com o subprocurador-geral de Justiça Jurídico do MPCE, Plácido Rios, nesta segunda-feira, 2. O representante do órgão informou que a contribuição foi fornecida em razão de um ‘inconformismo’ do membro com a facção. “Esperava receber da organização que não teria recebido", disse.
A investigação contra o grupo, no entanto, foi realizada anteriormente a partir de ocorrências registradas durante a eleição municipal de Santa Quitéria no ano ado, que identificou a atuação do Comando Vermelho nas eleições, com o objetivo de influenciar e direcionar o resultado eleitoral na região.
Segundo Rios, a facção comprava votos utilizando dinheiro proveniente do tráfico de drogas; expulsava moradores da cidade e impedia que o adversário político do candidato apoiado pela facção fizesse campanha, inclusive proibindo que moradores colocassem propaganda eleitoral do adversário em suas casas.
Diante das informações, os agentes policiais, em conjunto com outros órgãos, conseguiram reunir provas e solicitaram mandados de prisão e de busca e apreensão contra alvos no município, que resultou na prisão do membro delator. Após ser preso, o investigado decidiu colaborar com o Gaeco, fornecendo informações para o avanço das investigações.
Segundo Rios, o Poder Judiciário, no momento apropriado, analisará os benefícios que podem ser concedidos por meio da colaboração premiada do suspeito. Atualmente, o integrante está recluso em um presídio de segurança máxima e está decretado – jurado de morte, pela facção.
Ainda segundo o procurador, ele encontra-se preso, principalmente, pelo crime de integrar organização criminosa e demais outras ações criminosas. O suspeito foi denunciado pelo Ministério Público do Ceará. A identidade dele, no entanto, não foi divulgada pelo órgão ministerial.
A operação integrada pelas Forças de Segurança do Ceará e do Rio de Janeiro deflagrada no último sábado, 31, buscou cumprir 29 mandados de prisão e 14 de busca e apreensão na comunidade da Rocinha. Os alvos são todos faccionados cearenses que se instalaram no Rio há pelo menos dois anos e comandavam, à distância, as ações criminosas no Estado. Pelo menos mil mortes foram ordenadas do Rio.
“Nós estamos frustrados”, diz procurador sobre operação contra cearenses no Rio
O subprocurador de Justiça, Plácido Rios, classificou o resultado da operação como “eficaz”, mas expressou frustração diante do não cumprimento dos mandados de prisão contra as 29 lideranças da organização alvo das ações na Rocinha. “Esperávamos prender os líderes dessa organização que estavam no Rio de Janeiro, mas sabíamos da dificuldade”, afirma.
Nas primeiras movimentações da operação, integrantes do grupo criminoso fugiram para a Floresta da Tijuca, uma região de mata fechada, o que dificultou a captura. Segundo Plácido, não há registro de vazamento de informações que tenha favorecido a fuga dos suspeitos.
A operação resultou, até esta segunda-feira, 2, apenas na prisão de um homem natural de Brasília, mas que morava no Ceará e estaria escondido no Rio. Ele teve um mandado de prisão em aberto cumprido. Também foram apreendidos quatro fuzis, um revólver, duas pistolas, celulares, rádios transmissores e drogas.
Em relação aos entorpecentes, foi apreendido 204 quilos de droga, sendo 28 bolas de um 1 quilo de um pó branco semelhante a cocaína, 500 gramas de cocaína, 5.050 charutos de maconha, 147 tabletes de maconha, 9,8 mil papelotes de maconha e seis sacos de meio quilo de erva semelhante à droga.
Durante a operação, os policiais militares também encontraram uma mansão de luxo com duas piscinas aquecidas, área gourmet e academia. O imóvel seria de um dos 'cabeças' do CV no Ceará, identificado como Anastácio Pereira Paiva, 35 anos, o “Doze” ou “Paizão”, que comanda a facção no município de Santa Quitéria.
Rios afirma que o ‘grande trunfo’ da operação foi a apreensão de celulares que vão resultar em novas investigações contra o grupo criminoso. “Temos certeza que nesses aparelhos telefônicos nós temos muitas provas [da organização] [...] O estado do Ceará acredita que ele [grupo] seja responsável por muitos assassinatos”, pontua.
Ainda segundo o procurador, o início da operação foi acompanhado pelo governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), e pelo secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Roberto Sá, na região carioca.
O POVO procurou a Casa Civil e a SSPDS, por e-mail, nesta segunda-feira, 2, para confirmar a presença dos representantes nas ações policiais, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.