Dormir com seu cachorro faz bem? Saiba tudo sobre o hábito
Dividir a cama com o cachorro pode parecer inofensivo, mas isso pode trazer impactos na qualidade do sono e no comportamento do pet; entenda
Dormir com o cachorro é um hábito comum entre tutores que buscam conforto e companhia na hora do descanso. A presença do pet pode transmitir aliviar o estresse e até melhorar a qualidade do sono para algumas pessoas. Mas será que esse costume é realmente saudável?
Um estudo realizado pela Clínica Mayo de Phoenix em 2017 analisou o impacto da presença de cães no quarto e descobriu que dormir com o pet no mesmo ambiente pode até trazer benefícios emocionais. No entanto, pode trazer alguns problemas, como quando há o o à cama dos tutores.
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Antes de decidir se deve ou não dividir a cama com o animal, é importante considerar tanto os aspectos afetivos quanto os impactos na saúde e no comportamento. O POVO consultou uma veterinária especialista em bem-estar e comportamento canino para esclarecer algumas questões.
Existem benefícios em dormir com o pet?
O estudo realizado com 40 cães adultos e seus tutores revelou que, ao dormir no mesmo ambiente com seus animais, tanto os humanos quanto os cães apresentaram boa qualidade de sono.
Durante a pesquisa, os cães usaram um rastreador de atividade chamado Fitbark, enquanto os tutores utilizaram o Actiwatch 2, ambos dispositivos que monitoram o sono e os movimentos.
Dormir no mesmo ambiente? Sim. Já na mesma cama…
Os resultados mostraram que, em média, tanto os humanos quanto os cães atingiram uma eficiência de sono considerada satisfatória ao dormir no mesmo ambiente.
Mas apesar dos resultados positivos, o estudo revelou que os tutores dormiram melhor quando sozinhos, enquanto os cães apresentaram desempenho semelhante.
O estudo concluiu que a presença dos animais no quarto não parecia ser um grande problema para o sono, mas na cama era outra história. Por isso, mesmo que o hábito traga conforto emocional, há fatores que merecem ser avaliados.
Para Maria Daiane, veterinária e especialista em bem-estar e comportamento canino, o ganho emocional que esse contato na hora do sono oferece pode ser alcançado de outras maneiras, e os riscos tendem a ser maiores do que as vantagens.
“O único benefício que tem um cachorro dormir com seu tutor é a produção de dopamina”, afirma. Mas ela explica que essa sensação de bem-estar pode ser estimulada em outros momentos do dia, como deixando o cão manifestar seus comportamentos naturais, dando carinho, fazendo massagem, etc.
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Dormir com meu cachorro na cama faz mal?
Em termos de saúde, o risco para os humanos está relacionado à higiene: pelos, pulgas e possíveis zoonoses (doenças transmitidas entre animais e humanos) podem afetar pessoas com alergias, imunidade baixa ou problemas respiratórios.
Em relação ao cachorro, a veterinária alerta que o hábito pode levar, mesmo que de forma involuntária, a restrições no comportamento natural do animal. Segundo ela, muitos tutores am a controlar excessivamente a rotina do pet por receio de sujeira ou contaminação.
“Quando você decide dormir com cachorro, você geralmente proíbe o cachorro de ser cachorro, porque você tá com medo dele te ar alguma doença”, afirma. Ela explica que esse medo acaba influenciando atitudes cotidianas, como impedir o cão de se sujar ou brincar ao ar livre.
“E isso traz também muitos malefícios para os cães, porque um cachorro que não pode se comportar feito um cachorro, vai ficar estressado. Se o cachorro ficar estressado, logo ele vai ter problemas comportamentais”, explica Daiane.
Além disso, o que mais preocupa especialistas é a qualidade do sono nesta condição. Quando os cães dividem a cama com o tutor, seus ciclos naturais podem ser interrompidos pelos hábitos humanos, como dormir tarde, acender luzes ou se movimentar durante a noite.
Quando o hábito de dormir com o cachorro deixa de ser positivo?
Para quem tem sono leve ou sofre de insônia, a presença do pet na cama pode ser fonte constante de interrupções. Eles se mexem, lambem as patas e, em alguns casos, precisam sair para fazer necessidades durante a noite, o que compromete a continuidade do descanso humano.
Por outro lado, o próprio cachorro também tem a qualidade do sono prejudicada. Se ele acorda com frequência durante a madrugada para seguir o tutor, late ao menor barulho ou tem um sono muito leve, isso indica que o ambiente compartilhado não está favorecendo seu repouso.
Rotina de sono
Os cães são animais de hábitos diurnos, ou seja, precisam estar ativos durante o dia e ter um sono profundo à noite. No entanto, dormir com o tutor pode prejudicar esse ciclo natural. Maria Daiane explica que os cães precisam de cerca de 15 horas de sono por dia, com a maior parte concentrada a noite.
Quando esse sono é interrompido, há prejuízo na produção de melatonina, hormônio essencial para a regulação emocional, fortalecimento da imunidade, tolerância a estímulos e até o aprendizado. Um cachorro que dorme tarde ou acorda muito à noite pode ter mais ansiedade, menos paciência, imunidade baixa e até dificuldade para aprender.
“Se ele dormir tarde ou se ele fica acordando durante a noite é porque às vezes o tutor se mexe na cama, atrapalha o sono do cachorro. Isso acaba dificultando a produção robusta da melatonina”, detalha a profissional.
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Como identificar que dormir com o cachorro está causando problemas?
Nem sempre o tutor percebe de imediato que o hábito de dividir a cama com o cão está afetando negativamente o bem-estar do animal. No entanto, alguns comportamentos específicos podem indicar que a qualidade do sono do pet está comprometida:
- Disposição invertida: o cachorro parece sonolento e sem energia pela manhã, mas à noite fica agitado, fazendo corridas pela casa ou demonstrando grande atividade.
- Problemas comportamentais: a má qualidade do sono pode desencadear ou agravar quadros de ansiedade e outros distúrbios comportamentais.
- Lambedura compulsiva: o cão se lambe excessivamente sem motivo aparente.
- Latidos em excesso: o cachorro late de forma exagerada ou sem estímulos claros.
- Ansiedade por separação: o pet não consegue ficar sozinho, chora, uiva ou destrói objetos quando o tutor sai.
- Reatividade na guia: ele se mostra intolerante ao ver outros cães na rua, latindo ou tentando avançar.
- Dificuldade de aprendizado: cães que dormem mal costumam ter mais dificuldade para aprender comandos ou obedecer.
- Inflamações frequentes: a imunidade baixa pode desencadear problemas frequentes como giardíase, otite, dermatite e outras doenças.
Vale lembrar que esses sinais nem sempre aparecem de forma isolada ou evidente, e nem todo comportamento está diretamente ligado ao local onde o pet dorme. A recomendação é buscar a orientação de um veterinário para avaliar se há algo interferindo na qualidade de vida do cão.
Como mudar o hábito de dormir com o cachorro na cama?
O tutor que mudar esse hábito de dormir na mesma cama ou ambiente, deve fazer isso aos poucos. O primeiro o é tirar o pet da cama e colocá-lo para dormir no chão, em uma caminha confortável ao lado do tutor.
“Simplesmente fechar a porta do quarto de uma hora para outra pode causar um grande sofrimento no cachorro, que já se acostumou a dormir junto. Por isso, essa mudança precisa ser feita aos poucos”, orienta a veterinária.
Se o cão for pequeno e não conseguir subir na cama sozinho, o processo é mais simples: basta posicionar a caminha perto da cama e colocar uma peça de roupa usada do tutor nela. O importante é manter a consistência e não ceder aos pedidos do pet.
Já nos casos de cães de grande porte, que conseguem subir na cama, o tutor deve retirá-lo toda vez que ele tentar subir. “Em geral, após cinco dias o cão entende que não pode mais subir na cama e a nova rotina se estabelece com mais tranquilidade”, completa a especialista.
Qual o melhor lugar para o cachorro dormir?
Depois que o cão se acostuma a dormir na própria caminha, ao lado da cama do tutor, é possível levá-lo para dormir em outro ambiente da casa. Essa nova etapa deve seguir o mesmo princípio de adaptação gradual.
O espaço não precisa ser necessariamente um quarto, mas deve ser um canto tranquilo, como uma parte da sala, da lavanderia ou outro local que o cão reconheça como dele. O ideal é levar a caminha já conhecida para esse novo espaço, mantendo também algum item com o cheiro do tutor.
Com o tempo, o cão a a entender que aquele é o lugar dele e aprende a dormir bem ali. A chave está em respeitar o tempo de adaptação e criar uma rotina estável, com paciência e afeto.