Descoberta do 1º coração fossilizado demonstra potencial de acervo arqueológico do Ceará 6c19u
A descoberta é uma prova de que é possível estudar a evolução do coração através da paleontologia e avançar nos estudos sobre produção de válvulas cardíacas. Estudo foi iniciado pelo médico José Xavier Neto, formado pela UFC
Pesquisadores brasileiros descobriram o primeiro coração fossilizado de um vertebrado, na Chapada do Araripe, interior do Ceará. A descoberta foi publicada na revista eLife, na última quarta-feira, 20, mas a pesquisa, coordenada pelo médico José Xavier Neto, começou há mais de dez anos. O achado em um Rhacolepis buccalis, peixe que viveu há cerca de 115 milhões de anos, mostra que a evolução dos seres vivos pode ocorrer no caminho inverso ao que se acreditava usualmente - ou seja, estruturas mais complexas podem ser simplificadas. "Olhando em detalhes a morfologia do fóssil do coração do Rhacolepis foi possível constatar mais válvulas do que os peixes viventes, que possuem apenas uma válvula", explica José Xavier, nascido no Rio de Janeiro, formado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e atualmente pesquisador do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio). As cinco válvulas bombeavam o sangue para fora do coração, mas foram substituídas por estruturas mais simples que pudessem demandar menos energia do organismo. O mesmo conceito dos peixes de cavernas que perderam a visão ao longo do tempo. A descoberta está relacionada, essencialmente, à curiosidade do médico, às características ideais de conservação de fósseis na Chapada do Araripe, além de uma tecnologia de raio X especial para a análise dos vestígios. "Os corações chamados de câmara só existem em vertebrados e em moluscos, todos os outros têm uma bomba peristáltica, que funciona semelhante ao nosso intestino. Ficou a pergunta, como você chega de uma bomba para essa câmara tão sofisticada"> 1q3671
Paleontologia
Para Xavier, a descoberta prova que é possível estudar a evolução do coração através da paleontologia e, quem sabe, utilizar esses conceitos para aplicações práticas. "Noções importantes saem de coisas completamente inesperadas. Nosso achado mostra que é possível desfazer válvulas. Se a gente entender isso, podemos operar em sentido reverso, fazer válvulas em um contexto que seja útil", frisa.
[SAIBAMAIS 2] O médico sugere ainda estudos que sirvam para aumentar a durabilidade das válvulas do coração. "Elas são feitas de plástico ou metal. Têm uma duração, mas aqui e acolá precisam ser substituídas. No futuro, a gente pode ter um progresso", determina.
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AssineOs fósseis do Rhacolepis foram extraídos, com autorização do DNPM, de cidades como Nova Olinda, Santana do Cariri, Porteiras, Jardim e Crato, no sertão nordestino. O PH ideal da água, combinado à baixa quantidade de oxigênio, são fatores relacionados à preservação dos fósseis na Chapada do Araripe. "Se a água tiver turbulência, já não há fossilização assim. Em alguns fósseis surgem até partes moles conservadas, como músculos e pele", relata o geólogo Francisco Idalécio.
Estímulo à pesquisa
Dando continuidade à descoberta, os pesquisadores devem analisar os processos químicos que produziram a fossilização do coração. Além disso, a construção de uma nova fonte de luz Síncroton permitirá análises mais precisas de fósseis e abre caminho para novos achados em solo nacional. O equipamento, chamado de ''Sirius'', está sendo produzido pelo LNLS, em Campinas, e deve começar a operar daqui a dois anos.
"Entender o que aconteceu desde a morte do embrião pode levar a gente a prever onde acharemos mais fósseis. Existe uma chance enorme de que muitos detalhes possam ser encontrados em fósseis que estão nos museus", diz Xavier.
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