Ceará registra aumento de 23,5% no desmatamento em 2024

Ceará registra aumento de 23,5% no desmatamento em 2024

Estado foi o quarto brasileiro com maior número de alertas de desmatamento em 2024, com 5.594 notificações

O desmatamento no Ceará registrou um aumento de 23,5% em 2024, em comparação ao ano anterior. Os dados são do Mapbiomas Alertas, iniciativa que compila os eventos de desmatamento detectados no Brasil desde janeiro de 2019, e foram divulgados em maio de 2025.

Ao todo, foram 40.108 hectares (ha) desflorestados no ano ado, fazendo com que o Estado saltasse de 12ª, em 2023, para 9ª unidade federativa que mais desmata no Brasil.

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Os municípios de Acopiara (2.160,46 ha), Mombaça (1.844,22 ha), Jucás (1.422,69 ha), Araripe (1.252,46 ha) e Mauriti (1.085,59 ha) se destacam como as cidades cearenses com maior quantidade de hectares desmatados em 2024. A média diária de desmatamento em 2024 foi de 119,5 ha no Ceará.

O Ceará também notificou um aumento de 66,6% no número de alertas de desmatamento, quando comparado a 2023, tornando-se o 4º estado brasileiro com maior número de alertas em 2024. Juntos, os estados do Pará, Acre, Bahia, Ceará e Amazonas, representam mais de 60% de todos os alertas detectados no ano, que equivalem a 36% da área desmatada no Brasil, conforme o relatório.

Quando o assunto é fiscalização, dos 125.971 hectares desmatados no Ceará até dezembro de 2024, apenas 22,48% das áreas com alertas de desmatamento notificadas apresentaram algum tipo de autorização (18.721 ha) ou ação de fiscalização (11.444 ha), conforme o Monitor de Fiscalização do Mapbiomas.

Essa também foi a primeira vez, desde 2019, que a Caatinga, bioma no qual o Ceará está 100% inserido, registrou o maior evento de desmatamento detectado no Brasil, com 13.628 ha desflorestados. O número representa um aumento de 188,1% em relação a 2023, cujo maior desmatamento registrado na unidade biológica foi de 4.730 ha.

O professor titular e pesquisador da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Washington Rocha, que também coordena a Equipe Caatinga do Mapbiomas, analisa como preocupante os eventos em que uma área excessiva de desmatamento é autorizada.

Ele destaca que quando é verificada a quantidade de áreas desmatadas com o que há autorização registrada, é possível apontar desmatamento ilegal. “Isso é preocupante principalmente se você estiver em localizações em zonas de pressão, próximo à área de proteção natural, áreas de preservação, áreas de proteção, núcleos de desertificação", explica o professor. 

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A Caatinga também foi o bioma com o menor percentual da área de desmatamento autorizado ou fiscalizado (23,6%). O percentual do número de alertas com autorizações ou ações de fiscalização também se diferencia dos demais biomas, alcançando apenas 5,8%.

“A legislação na Caatinga é mais permissiva que nos outros biomas”, avalia Diêgo Costa, pesquisador do programa de Pós-Graduação em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente da Uefs.

“Por exemplo, a gente permite fazer um plano de manejo com corte raso, coisa que em outros biomas não permite (...) a quantidade de reserva legal que você tem que ter dentro da propriedade é menor do que na Amazônia, por exemplo, e possivelmente menor do que no Cerrado. O próprio percentual de áreas protegidas no bioma comparativamente é menor em relação a outros biomas”, completa.

O aumento observado no território estadual vai na contramão dos dados gerais do desmatamento no Brasil, que registraram uma queda de 32,4% em área desmatada e 26,9% sobre os alertas de desmatamento, em 2024. Considerando todos os territórios contemplados pela Caatinga, a queda observada para o desmatamento no bioma foi de 13,4%.

“Embora o desmatamento na Caatinga tenha reduzido em 13,4% quando comparado ao ano de 2023, isso ainda incorre na perda de aproximadamente 174 mil hectares em um bioma que já perdeu mais de 40% de sua vegetação original. Os estados do Ceará e Piauí aumentaram suas áreas desmatadas (...)”, pondera Marília Nascimento, gerente de Programas Socioambientais da Associação Caatinga.

A relação entre o processo de desmatamento e a desertificação na Caatinga também é alertado por ela. “A Caatinga tem apenas cerca de 9% do seu território protegido por Unidades de Conservação, destes apenas 2% são de proteção integral. Esse dado por si só, nos alerta sobre a necessidade de ampliar o tamanho das áreas legalmente protegidas, considerando que o bioma já perdeu aproximadamente 47% de sua vegetação original e 13% está em estágio avançado de desertificação”.

Desmatamento gera impactos sociais, econômicos e ambientais

Os impactos do desmatamento são de longo alcance e comprometem a qualidade de vida das populações e o o a direitos básicos, como a segurança alimentar e hídrica, acentuando desigualdades e vulnerabilidades sociais, além de prejudicar a natureza e a economia, conforme detalha Marília Nascimento.

“O desmatamento interfere diretamente na saúde dos solos, pois a retirada da vegetação deixa o solo exposto, desprotegido e sem os nutrientes necessários para que seja produtivo. Com solos menos produtivos, a prestação de serviços ecossistêmicos gerados pela natureza como a produção de alimentos é reduzida, o que afeta o valor de mercado dos itens, deixando-os mais caros, e compromete o o das pessoas mais vulneráveis”, explica.

Washington Rocha pontua que os impactos ambientais, sociais e econômicos ligados ao desmatamento estão interligados, ressaltando suas consequências especialmente para comunidades tradicionais.

“Ainda existem no nosso bioma muitas comunidades extrativistas ou que vivem de produção local. Na medida em que essa variável ambiental está sendo comprometida, ela vai refletir na existência dessas comunidades, dessa população (...) e, claro, se você tem um ambiente degradado e socialmente comprometido, evidentemente isso vai refletir no econômico”, completa.

Para Marília Nascimento, “esse desafio exige soluções que conciliem o uso racional dos recursos naturais e o desenvolvimento e implementação de tecnologias e estratégias adaptadas à realidade do semiárido brasileiro”. Para ela, o aumento no número de alertas de desmatamentos no Estado indica que o problema permanece e exige respostas integradas envolvendo políticas públicas, monitoramento e fiscalização ambiental, apoio à produção sustentável e valorização do bioma Caatinga.

“Nesse sentido, é preciso um esforço combinado e concomitante que envolva ações de regularização e monitoramento ambiental, capacitação e assistência técnica para o manejo sustentável da caatinga, difusão de tecnologias sociais de convivência com o semiárido, fortalecimento da bioeconomia e sociobiodiversidade, recuperação de áreas degradadas”, destaca.

O POVO entrou em contato com a Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Estado do Ceará (Semace) para saber quais são as atividades de fiscalização realizadas pela pasta e quais as medidas para mitigar a desertificação no Estado, mas não teve retorno até a publicação da matéria. 

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