Apagão na Europa: o que se sabe até agora? Veja últimas notícias na Espanha e em Portugal
Com causa ainda incerta, interrupção em larga escala afetou milhões de pessoas, paralisou serviços essenciais e levantou questionamentos sobre a dependência da energia solar
Nessa segunda-feira, 28, Espanha e Portugal enfrentaram o maior apagão elétrico de suas histórias, com um colapso repentino e generalizado no fornecimento de energia. Cidades inteiras pararam, serviços essenciais foram interrompidos e milhões de pessoas ficaram sem luz.
O sistema elétrico espanhol perdeu 60% da sua capacidade em apenas cinco segundos, o que gerou um efeito dominó em toda a Península Ibérica.
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A origem do problema, segundo as autoridades, ainda está sendo investigada. No entanto, a empresa operadora da rede espanhola, Red Eléctrica de España (REE), apontou incidentes em usinas solares no sudoeste do país como possíveis causadores da instabilidade que levou à interrupção da conexão com a França.
Apesar de a hipótese de ataque cibernético ter sido descartada, a falta de respostas definitivas tem gerado incertezas e intensificado o debate sobre os limites e riscos da transição energética baseada em fontes renováveis.
O impacto do apagão: caos urbano e queda de serviços
O blecaute começou por volta das 12h30 no horário local (7h30 de Brasília) e afetou tanto o território continental da Espanha quanto Portugal. O consumo de energia espanhola caiu de 25.184 para 12.425 megawatts em minutos.
Já Portugal, que importa cerca de 33% da sua energia da Espanha, teve uma redução de 93% no consumo, de 8,16 GW para apenas 0,6 GW., dados da AFP
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As consequências foram sentidas imediatamente: trens e metrôs pararam, aeroportos interromperam atividades, semáforos deixaram de funcionar, ageiros ficaram presos em elevadores e serviços de telefonia e internet sofreram quedas abruptas.
Em Madri, o tráfego de dados caiu mais da metade, segundo medição da DE-CIX.S
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Restauração lenta e ajuda da França
A energia começou a ser restabelecida ao longo da tarde e da noite, com previsão inicial de normalização entre seis e dez horas. Em algumas regiões, a recuperação foi mais rápida graças à ajuda da rede elétrica sa, que forneceu 700 megawatts à Espanha para estabilizar o sistema.
As Ilhas Baleares e Canárias, por estarem desconectadas da rede continental, não foram afetadas.
Por que o apagão foi tão prolongado?
Na França, o gestor da rede elétrica RTE restabeleceu rapidamente o abastecimento. Mas na Espanha e em Portugal, a reativação da eletricidade foi muito mais lenta e muitos moradores destes países tiveram que esperar dez ou até mesmo 20 horas para retomar o abastecimento.
Uma das explicações está na magnitude do apagão que começou, segundo o gestor da rede espanhola (REE), com "uma forte oscilação dos fluxos de potência", acompanhada "de uma perda de geração muito importante", um fenômeno extraordinário.
As centrais elétricas, especialmente as nucleares, pararam de funcionar e foi preciso reiniciar "progressivamente as linhas de transmissão e sincronizar as unidades de produção", o que é "lento e tecnicamente difícil", explica Pratheeksha Ramdas, analista da Rystad Energy.
Outra explicação para esta lenta reativação consiste na natureza da rede peninsular, pouco conectada ao restante da UE: para restabelecer a energia, a Espanha pôde receber transferências de eletricidade da França e, em menor medida, do Marrocos, mas de forma limitada.
Da mesma forma, a modesta capacidade de armazenamento de energia da Espanha, atualmente em aproximadamente 1,8 gigawatt/hora, "restringe sua capacidade de amortecer estas flutuações e desacelera a rápida recuperação necessária durante apagões importantes", destaca Pratheeksha Ramdas.
Apagão na Europa: Qual é a origem possível?
Por enquanto, várias hipóteses foram levantadas, entre elas a de um ciberataque. Nesta terça-feira, 29, a justiça espanhola anunciou ter aberto uma investigação para determinar se o apagão "pôde ter sido um ato de sabotagem informática", tornando-o suscetível de ser um "crime de terrorismo".
"Com as análises que conseguimos realizar até este momento, podemos descartar um incidente de cibersegurança", afirmou, nesta terça, Eduardo Prieto, diretor do REE, destacando que não foi detectado "nenhum tipo de intrusão nos sistemas de controle".
As redes sociais amplificaram um boato de um falso comunicado atribuído ao gestor da rede portuguesa REN, que supostamente fazia referência a um "raro fenômeno atmosférico" como origem do apagão. Esta possibilidade também foi descartada.
"Durante o dia de 28 de abril não foi detectado na Espanha nenhum fenômeno meteorológico ou atmosférico incomum", afirmou a Agência Estatal de Meteorologia espanhola (Aemet).
Para tentar esclarecer a origem do corte, o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou a criação de uma comissão investigadora e pediu aos cidadãos para não caírem em especulações.
"Não (se pode) descartar nenhuma hipótese até que tenhamos os resultados destas análises", reiterou nesta terça.
Uma mensagem de prudência similar à de Eduardo Prieto. "Estamos pendentes de receber ainda informação de alguns agentes do setor (...), que nos permita ter toda a informação, uma foto completa dos dados e, portanto, depurar as análises e obter as conclusões oportunas", insistiu.
Debate sobre energias renováveis se intensifica
Até agora, a REE confirma apenas que a falha teve origem em dois pontos de perda de geração de energia, provavelmente em usinas solares.
O diretor de operações da REE, Eduardo Prieto, declarou que “é cedo para tirar conclusões” e pediu cautela com especulações. A empresa também estuda expandir suas interconexões com a França para garantir maior resiliência da rede.
A Espanha é líder na produção de energia renovável na Europa — e mais de 75% da energia utilizada no momento do colapso vinha dessas fontes. Por isso, o apagão reacendeu discussões sobre a estabilidade de sistemas altamente dependentes de energia solar e eólica.
Especialistas e empresas do setor alertam para a necessidade de investimentos em armazenamento de energia e infraestrutura. O banco de investimentos RBC estima que o prejuízo econômico pode chegar a 4,5 bilhões de euros e criticou o governo espanhol por “complacência” com a atual rede elétrica. (Com informações de Valentin Bontemps / AFP)
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