O número de bolsonaristas no local começou a aumentar após o apito inicial do juiz, às 16 horas. Inicialmente, o público se concentrou no calçadão da Praça da Sé, localizada defronte à entrada lateral do quartel. Com a chegada de mais manifestantes, o protesto ocupou o cruzamento da rua Doutor João Moreira com a avenida Alberto Nepomuceno, por volta das 16h30min, mas o bloqueio durou menos de 10 minutos devido às reclamações dos motoristas que avam pelo trecho.
Durante a partida, a estreia da seleção brasileira no maior torneio de futebol do mundo parecia assunto proibido entre os manifestantes. Eles falavam sobre teorias da conspiração contra a reeleição de Jair Bolsonaro (PL), suposto conluio do Supremo Tribunal Federal (STF) com o PT, e até de uma “nova ordem mundial” idealizada pela esquerda para “dominar” o ocidente. Mas, nada de a Copa ocupar espaço entre as conversas.
Já perto do fim do jogo, O POVO testemunhou um breve diálogo sobre o tema entre duas mulheres. “Pela primeira vez eu tô torcendo contra o Brasil. A [TV] Globo quer é audiência, quer distrair a gente”, falou uma das interlocutoras. “É mais uma das safadezas que eles querem fazer com o Brasil”, disse a outra. Apesar da aparente indiferença aos jogos, ambas estavam vestidas com camisas da seleção brasileira, assim como a maioria dos manifestantes.
Sem estimativa oficial de público, o protesto reuniu cerca de 300 pessoas enquanto a partida acontecia. Depois, os manifestantes foram se dispersando aos poucos. Na Praça da Sé, havia várias barracas e tendas montadas por grupos que fazem vigília desde a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL). Eles dizem que só vão deixar o local quando as Forças Armadas se pronunciarem sobre as eleições deste ano.
“É por isso que estamos aqui há 25 dias. Vamos continuar firmes, quem fica 25 [dias], fica 100 [dias], fica 200 [dias], fica um ano… nós não vamos parar enquanto as Forças Armadas não vierem a público prestar esclarecimentos, nós não vamos sair daqui”, bradou um dos organizadores do ato, para delírio dos manifestantes golpistas.
Eles alegam que a intervenção das forças militares seria necessária para impedir a implantação do comunismo no Brasil. “Nós não vamos deixar esse sistema ser implantado na nossa nação. Um sistema corrupto que não deu certo em nenhuma nação”, discursou o organizador.
Entre uma fala e outra, os manifestantes cantavam o Hino Nacional, faziam orações cristãs e proferiram, incessantemente, a palavra de ordem mais entoada durante a manifestação antidemocrática: “Forças Armadas, salvem o Brasil”. Ironicamente, também diziam: “Todo poder emana do povo”, uma contradição com a própria manifestação, cuja causa é a não aceitação da vontade popular exteriorizada nas urnas no último dia 30 de outubro.
O protesto desta quinta-feira, 24, embora tenha direcionado o foco para o boicote à Copa, utilizou os mesmos expedientes de manifestações anteriores, principalmente a perseguição a veículos de imprensa. Incomodados com a presença de um cinegrafista no local, manifestantes abordaram o profissional em tom de intimidação: “De onde você é, cara">Além da imprensa, até mesmo os vendedores ambulantes estavam na mira dos radicais. O POVO testemunhou o momento em que um vendedor de picolés foi interpelado por um apoiador do presidente sobre em quem o trabalhador teria votado nas eleições. “Bolsonaro, velho. Sem chance do PT”, respondeu o vendedor.
“Vamos lutar para derrubar o Lula. Um governo como esse, a favor de bandido, de gay… não pode acontecer, tomara que tenha uma guerra. E tu sabe que não é só [guerra] física, é espiritual também… ele [Lula] tem um pacto com o satanás”, concluiu o trabalhador.
Desconfiado, um outro apoiador do presidente perguntou ao ativista radical: “Te convenceu [sobre o apoio a Bolsonaro]">No decorrer do protesto, temas baseados em informações falsas dominavam as conversas entre as “rodinhas” de manifestantes. Eles dialogam, principalmente, a respeito de uma possibilidade de prisão do ministro Alexandre de Moraes e diziam acreditar que as Forças Armadas iriam “determinar” recontagem dos votos do 2º turno para reverter o que chamaram de “fraude eleitoral”.