Tenente da PRE é investigado por envolvimento em esquema de compra de votos no Ceará
Controladoria Geral de Disciplina instaurou investigação sobre envolvimento do policial ligado a Bebeto Queiroz, prefeito eleito de Choró, que se encontra foragido
A Controladoria Geral de Disciplina (CGD) investiga 2º tenente da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), Francisco Roberto Dias Lima, por suspeita de participação em "um esquema de compra de votos relacionado às Eleições Municipais de 2024". Ele teria ligações com Bebeto Queiroz (PSB), prefeito eleito impedido de assumir o comando do município de Choró.
Segundo a CGD, em publicação no Diário Oficial do Estado (DOE) da última terça-feira, 22, fica instaurada sindicância disciplinar contra o profissional de segurança pública, com a designação do tenente coronel da PM Valquézio Vital Barbosa para apurar a responsabilidade istrativo-disciplinar do militar acusado.
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Na justificativa, a CGD cita os autos do processo SISPROC sob nº 476482024, contendo indícios de que o policial militar teria participado "de um esquema de compra de votos relacionado às Eleições Municipais de 2024", supostamente afastando policiais de determinados "plantões" e exercendo influência na indicação de candidato à vaga de motorista nos municípios de Boa Viagem/CE e Canindé/CE, "em uma troca perigosa e suspeita de favores".
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A CGD aponta ainda que as condutas citadas configuram, "em tese, transgressão disciplinar".
O investigado tem 31 anos e é apontado como parceiro de Bebeto Queiroz, prefeito eleito do município de Choró, impedido de assumir o cargo pelas investigações da Polícia Federal. Bebeto chegou a ser preso e hoje é considerado foragido da Justiça. Ele teve o mandato cassado.
O relatório da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco), feito a partir de uma investigação da Polícia Federal e anteriormente já citado em matérias do O POVO sobre o caso, traz prints de conversas entre o tenente e Bebeto. Em uma delas, Roberto afirma que estará na coordenação no Sertão Central de 24 de setembro até um dia depois da eleição (realizada 6 de outubro de 2024) e que afastou "o PM dos plantões da região".
Após as conversas explicitadas no documento, existe ainda uma nota do analista da Ficco, destacando haver "relação suspeita com a PRE". Ele explica que o teor da troca de mensagens revela conversa "sobre temas relacionados à política e à própria atuação da PRE, com troca perigosa e suspeita de favores", envolvendo ainda Cleidiane, irmã de Bebeto.
Confira o teor das conversas
Cassação
Em abril de 2025, a Justiça Eleitoral determinou a cassação dos diplomas do prefeito eleito de Choró, Bebeto Queiroz, e do vice-prefeito eleito, Bruno Jucá, e também a realização de novas eleições no município, distante 168,10 km de Fortaleza.
A sentença atendeu a uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) da coligação derrotada no pleito que acusa a chapa do prefeito eleito de praticar abuso de poder político e econômico durante o período eleitoral de 2024. O juiz também determinou inelegibilidade de 8 anos para Bebeto e Bruno. Aos citados, cabe recurso junto ao Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE).
Em nota, o TRE-CE informou que, além da cassação dos diplomas e a inelegibilidade, ambos foram multados, mas não especificou os valores. "O juiz da 6ª Zona Eleitoral entendeu que houve a prática de abuso de poder econômico e uso indevido de bens e serviços públicos com finalidade eleitoral durante o pleito municipal de 2024 no município de Choró/CE", versa.
O município é palco de instabilidade política, que culminou na fuga de Bebeto Queiroz, na esteira de investigações da Polícia Federal (PF) sobre suspeita de desvio de verbas, envolvendo emendas parlamentares, em diversos municípios cearenses para esquema de compra de votos. Bebeto está foragido desde o final do ano ado e a cidade é gerida pelo prefeito interino Paulinho, também do PSB, que foi eleito vereador em 2024 e exerceria a função de presidente da Câmara Municipal.
Além disso, a decisão apontou favoravelmente pela cassação dos diplomas expedidos em favor dos eleitos diante da “gravidade das condutas apuradas nesta Ação de Investigação Judicial Eleitoral, que comprometeram a legitimidade do pleito de 2024”, e determina a realização de novas eleições no município de Choró, diante da anulação dos votos dados à chapa eleita e da “caracterização de prática abusiva por ambos os candidatos, o que impossibilita a manutenção do resultado eleitoral originário”.
O POVO não conseguiu localizar a defesa do policial militar Francisco Roberto Dias Lima, mas o espaço segue aberto para os argumentos do profissional militar investigado, sendo a matéria atualizada em seguida.