UFC concede graduação póstuma a Bergson Gurjão, estudante morto na ditadura
Líder do movimento estudantil, Bergson Gurjão recebe título de graduação pela UFC após 53 anos de sua morte
O estudante de Química e líder estudantil Bergson Gurjão Farias receberá o título de graduação post mortem em solenidade na Universidade Federal do Ceará (UFC) após mais de 50 anos da morte pela repressão da ditadura militar brasileira. A cerimônia ocorre nesta sexta-feira, 16, véspera do aniversário do homenageado, com a presença de familiares.
O título foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Universitário (Consuni) e visa a reparação histórica após o assassinato do estudante em maio de 1972, aos 25 anos. A cerimônia deve acontecer no dia 16, às 17h30min na Concha Acústica da Reitoria, localizada no bairro Benfica.
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A vice-reitora e professora, Diana Azevedo, comenta que este gesto é um ato de memória e reparação por todos os que foram obrigados a se afastar da instituição nos "anos de chumbo". E concluiu: "É preciso que as novas gerações conheçam a história para não repetir os mesmos erros do ado, particularmente as violências contra a dignidade humana".
Anos de militância
Bergson foi vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na década de 1960. Devido aos decretos e limitações desse período, o estudante teve sua matrícula cancelada e foi perseguido em virtude de seus posicionamentos políticos.
Bergson foi guerrilheiro clandestino e participou na Guerrilha do Araguaia, movimento armado no sul do Pará contra a ditadura e tentativa de instaurar um governo socialista no Brasil, entre as décadas de 1960 e 1970.
Após ser capturado pelo Exército Brasileiro na mesma época, Bergson foi assassinado. Os restos mortais só foram encontrados nos anos 1990 na região do Araguaia, identificados por meio de exames de DNA. O estudante da UFC foi sepultado em sua terra natal apenas 10 anos depois, após transferência de Brasília para o Ceará.
Exposição Sementes de Luta
Em dezembro de 2024, o Espaço Cultural Bergson Gurjão Farias foi inaugurado na UFC. Localizado no prédio da Reitoria, o espaço sediou por cinco meses a exposição Sementes de Lutas: aqui está presente o movimento estudantil!, que apresentou acervos, depoimentos, fotografias e objetos pessoais de Bergson Gurjão e outros militantes.
Em entrevista ao O POVO, a coordenadora da mostra, Zákia dos Reis, afirma que a exposição é uma “memória importante de ser revivida”. Para ela, é necessário que haja espaços que mostrem aos novos o que foi o movimento social e estudantil na época da ditadura e da reconstrução da democracia no Brasil.
“Foi feita uma reconciliação histórica com vários ex-militantes, ex-alunos da UFC, que foram proibidos de colar grau e tiveram seus direitos violentados. Visto que a Universidade, enquanto instituição, foi braço do Estado autoritário brasileiro na época da ditadura”

A estudante de jornalismo e bolsista da exposição, Laura Tavares, comentou que a notícia da concessão do título a Bergson animou toda a equipe de mediação da amostra. “A história de Bergson é muito forte e importante, ele merece ser lembrado sempre. Bergson lutou muito para uma universidade democrática, é preciso manter sua memória viva”.
Envolvida no trabalho de pesquisa por um ano, coletando dados e depoimentos, a estudante comenta que sua trajetória dentro do projeto mudou sua percepção como aluna da UFC e como cidadã. E finalizou: “Isso mudou muito minha visão sobre tudo que eu tenho o na Universidade. Se hoje eu posso ir ao restaurante universitário e ser bolsista, é porque pessoas lutaram para que todas essas oportunidades existissem”.
Serviço
Solenidade de concessão de título de graduação post mortem a Bergson Gurjão Farias
Local: Concha Acústica da Reitoria da UFC (Av. da Universidade, 2853, Benfica)
Data: 16 de maio de 2025 (sexta-feira)
Horário: 17h30min
Evento aberto ao público
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