Dia de Finados: como atravessar o luto de forma saudável 1h502u
Reações à perda variam e, em alguns casos, o auxílio profissional pode evitar adoecimentos. Ir ao cemitério no Dia de Finados não é uma regra, mas para muitos ajuda a manter viva uma relação que, embora não seja mais física, ainda existe
O luto é um processo psicológico de adaptação a alguma experiência de perda, um período de recolhimento e introspecção para assimilar o sentimento de saudade e aceitar a nova realidade. Mas não existe um roteiro de como atravessar esse estado emocional: cada indivíduo reage de uma forma e tem um tempo diferente, a depender da estrutura emocional e das vivências.
O que vale para todos é o fato de que superar o luto e não repreender o sentimento é essencial. É o que explica o psicólogo Danilo Montenegro, especialista em saúde mental e psicologia hospitalar.
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“É preciso ter a compreensão de que o luto é algo necessário e inerente à vida. Caso contrário, isso pode se manifestar posteriormente com algum outro sintoma, como sentimento de culpa, remorso ou até mesmo crises de choro repentinas e isolamento social”, explana.
Todo processo de luto tem um começo, um meio e um fim, ressalta Danilo. “Para algumas pessoas pode demorar meses, para outras, anos. O primeiro ano após a perda é o mais difícil, porque é nesse ano que ocorrem todos os primeiros aniversários e datas significativas sem a pessoa estar ali, próxima dos entes queridos”, lembra.
Segundo o psicólogo, que atua no hospital Nosso Lar, em Fortaleza, diversas reações emocionais são despertadas com a morte de alguém, como tristeza, ansiedade, culpa e raiva.
“A pessoa também pode, num primeiro momento, querer se isolar do convívio social. Em relação às alterações físicas, podem ocorrer sudorese, palpitação e fraqueza, já que o corpo fica sob estresse. A reação varia de pessoa para pessoa, mas não há como evitar o processo de luto”, pontua.
Para que se consiga elaborar e atravessar o luto da maneira mais saudável possível, a busca por ajuda profissional pode ser uma saída importante — principalmente para evitar que se desencadeiem situações de adoecimento, como um quadro de depressão.
“O assunto morte ainda é pouco dialogado entre as famílias. Quando um falecimento acontece, as pessoas são tomadas por angústias e necessidade de falar sobre esse sofrimento. A terapia é o espaço de escuta clínica especializada, onde se olha as dores muitas vezes reprimidas. Sentimento de culpa, mágoas e rancores podem ser abordados no atendimento psicológico, sem julgamento, permitindo que novos significados e vivências sejam elaboradas”, destaca.
De acordo com o especialista, ir ao cemitério no Dia de Finados não é uma regra, mas para muitas pessoas arrumar o túmulo, trocar as flores, acender velas e fazer orações são formas de manter viva uma relação que, embora não seja mais física, ainda existe.
“Ter em mente as memórias, especialmente de momentos agradáveis com a pessoa, também ajuda a fazer as pazes com a perda. Não é uma regra e nem todo mundo pode se sentir confortável, mas pode ser benéfico até para 'conversar' com quem já se foi”, afirma.
Danilo relata que “acontece muito a situação de ‘não pude me despedir, não pude dar tchau’. E, na verdade, é possível se despedir mesmo depois que a pessoa foi embora. Falamos, no fim, com nós mesmos, mas intimamente estamos ressignificando o momento da perda”.
Essa também é a reflexão do professor Gustavo Moura, da Universidade Federal do Ceará (UFC), coordenador do Centro de Orientação Sobre a Morte e O Ser (Cosmos). Ele pondera que fechar-se na dor não é salutar, assim como fazer de conta que ela não existe.
“É preciso viver a dor, mas permitir-se se nutrir de amor, de carinho, de atividades prazerosas que possam contrabalançar a perda e permitir que o enlutado se vincule à vida presente. Com espaço para manifestar todos os sentimentos que venham, incluindo a tristeza, a falta, mas também abrindo espaço para momentos de alegria, até mesmo que a tristeza volte”, diz.
Além de ir ao cemitério, Gustavo salienta que, para muitas pessoas, a forma de homenagear seus entes queridos que partiram pode ser outra. “Pode ser uma oração em casa, pode ser ir a um lugar que esteja vinculado à pessoa falecida. É importante que cada um possa fazer algo que faça sentido para si e que atenda ao seu desejo de homenagear a memória da pessoa amada”, sinaliza. (Colaborou Marília Serpa/Especial para O POVO)
As cinco fases do luto e como lidar com cada uma 4w342b
Na observação do psicólogo Danilo Montenegro, existem cinco fases do luto. São elas: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Apesar de não necessariamente todas as pessoas arem exatamente por todos os estágios e seguirem exatamente todas as regras, o mais comum, segundo o especialista, é que esses processos sejam seguidos.
- Primeiro estágio: NEGAÇÃO - Conhecido também como fase de isolamento, a primeira das cinco etapas do luto serve como um mecanismo de defesa temporário, um para-choque, que alivia o impacto da notícia, uma recusa a confrontar-se com a situação. Pensamentos como “aquilo não pode ter acontecido, não comigo, não com ela” são comuns nesse período. Ocorre em quem é informado abruptamente a respeito da morte. Embora considerada a fase inicial, esse comportamento pode aparecer também em outros momentos do processo do luto.
Como lidar com a negação no luto?
Desde o início, o acompanhamento psicológico é essencial. Neste momento, a necessidade de se isolar e estar consigo mesmo é recorrente. Portanto, é importante que as demais pessoas respeitem. Ao invés de contradizer as negações de quem está vivendo a perda, ou tentar trazer um discurso de otimismo, simplesmente tenha empatia com esse sentimento. Já os indivíduos que estão inseridos no luto, é importante se permitir dar vazão aos sentimentos de tristeza, solidão ou inconformidade.
- Segundo estágio: RAIVA - O segundo momento, da raiva, acontece quando as pessoas saem da introspecção intensa da negação e, finalmente, começam a externalizar um sentimento: a revolta. Neste caso, os indivíduos tornam-se por vezes agressivos. Há também a procura de culpados e questionamentos, tal como: “Por que ele">Márcia elenca seis orientações que podem ajudar neste momento difícil e delicado para os familiares e amigos próximos que conhecem alguém que está chegando ao fim da vida:
- Reconhecer o fim: é um importante o para tudo que se seguirá adiante. Entender sobre a finitude de nossas próprias vidas é lembrar que estamos todos em um grande processo cíclico de idas e vindas.
- Não ter medo: saber que perdemos as pessoas mais importantes da nossa vida pode ser uma forma de se preparar para garantir que o momento da partida seja o menos doloroso possível. Não devemos ter medo de perder alguém porque esse é um fato inevitável para 100% dos seres humanos.
- Não se culpar: é muito comum que pessoas próximas sintam culpa pela morte de algum ente querido, imaginando que poderiam ter feito mais ou até evitado aquele falecimento. O sentimento, que afeta até mesmo cuidadores profissionais, deve ser medido e controlado para que não gere prejuízos emocionais e sociais severos.
- Garantir cuidados paliativos: em situações terminais é essencial saber os cuidados necessários. Em casos que há doenças com dores, é preciso apoio médico para que haja a receita dos medicamentos analgésicos mais adequados, por exemplo.
- Entender que o tempo do luto varia de pessoa para pessoa: a morte de alguém próximo afeta de maneira bastante particular cada um que conviveu com aquele que se foi. Por isso, é necessário compreender que há pessoas que vivem o luto por anos, enquanto outras conseguem ar por essa fase difícil em meses. Este entendimento é essencial para evitar julgamentos sobre o próprio estado e do estado dos outros.
- Procurar ajuda de profissionais: o sofrimento psicológico às vezes é tão forte que pode ser comparável a dores físicas. Portanto, garantir apoio profissional psicológico ou psiquiátrico pode tornar menos difícil o processo de entendimento sobre o fim da vida.
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