Quem são os cearenses que vivem de criar memes e como é o processo de criação
Com humor afiado e criatividade, influenciadores e especialista explicam como os memes viraram profissão e ferramenta cultural no Brasil
A cada meme compartilhado, mais do que uma piada rápida ou um vídeo engraçado, está em movimento uma engrenagem complexa da cultura digital. No Brasil, essa cadeia encontrou terreno fértil: o país é dito nas redes como um dos maiores produtores de memes do mundo, e muitos criadores já transformaram esse tipo de conteúdo em profissão.
Camilla Uckers, influenciadora de Fortaleza (CE), lembra com exatidão o momento em que sua vida mudou: “Esse vídeo ultraou a marca de 1 milhão de os em uma semana. Foi aí que percebi que poderia transformar isso em profissão, principalmente porque o YouTube incentivava a monetização.”
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Desde então, ela planeja com cuidado cada postagem. “Eu sempre planejo tudo, desde o roteiro até o horário de postar. É importante para ficar organizado.”
Já Aildes Oliveira, também fortalezense, com quase 2 milhões de seguidores, conta que a veia humorística surgiu ainda na infância: “Desde sempre amei gravar, fazer brincadeiras e piadas. Quando ganhei meu primeiro dinheiro com uma publi, fiquei chocado com o valor e comecei a levar a sério como profissão.”
Mas, o que faz um meme ser bom? Em entrevista ao O POVO, influenciadores explicam o processo de criação de seus conteúdos.
Meme e a arte de viralizar
Para o linguista Rafael Nogueira, pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC), os memes são mais do que piadas visuais. “Os memes são textos verbo-visuais, que utilizam elementos escritos e sonoros. Eles funcionam como manifestações do eu que ironizam, criticam ou comentam o cotidiano de forma criativa.”

Camilla Uckers descreve que o segredo está na identificação com o cotidiano: “As pessoas sempre buscam se identificar com aquilo que vivenciam no dia a dia. Sempre busco fazer vídeos nesse estilo para viralizar nas redes.”
Seus vídeos mais famosos são as pegadinhas com a avó. “Sempre que gravo ela, o vídeo viraliza. Já fomos até chamadas para ações publicitárias.”

Aildes Oliveira também teve seu momento de virada com um conteúdo espontâneo. “Meu primeiro meme que viralizou foi com minha sobrinha. Coloquei um efeito de autotune e ela chorava, parecia que estava cantando. Ficou muito engraçado e muitas pessoas me conheceram a partir daí. Logo depois vieram as publicidades.”
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Mas, para ele, o sucesso de um meme vai além da técnica: “Tem que ter a sua essência, o seu jeitinho, a sua voz. Aí sim as pessoas vão te conhecer e vão sorrir com seus vídeos.”
Indústria dos memes: improviso, rotina e críticas
O humor parece espontâneo, mas há método por trás da graça. Camilla prefere organização: “Sempre planejo tudo, como será o vídeo, até o horário de postá-lo.” Já Aildes Oliveira aposta no improviso: “Às vezes faço algum rabisco de roteiro, mas geralmente tudo vem na minha cabeça e já faço o vídeo logo em seguida.”
Ambos sentem o impacto das redes. “Do meu lado, não tem pressão, mas os seguidores às vezes cobram quando demoro a postar”, diz Camilla. Aildes, por outro lado, ite: “Eu me pressiono muito, principalmente nos stories. Gosto de trazer sempre algo novo, introduzir fantasias ou coisas que ninguém espera.”
E quando o assunto são críticas, cada um lida de uma forma. Camilla é direta: “Não costumo responder. Quando é algo muito pesado, eu bloqueio.” Já Aildes encara com serenidade: “As pessoas falam o que o coração delas está cheio. Isso fala mais sobre elas do que de mim.”
O meme como linguagem cultural
Rafael Nogueira identifica quatro pilares para a circulação de memes: criação, recriação, interação e compartilhamento. “A partir da criação, há uma atualização constante, com a interação do público e a ampla difusão nas redes.”
Segundo Rafael, essa dinâmica torna os memes uma ferramenta eficaz de comunicação — e de marketing. “Como têm fácil disseminação, são úteis para influenciadores e empresas. Ao ironizar situações do cotidiano ou adaptar memes populares para campanhas, há uma fácil indução do público ao consumo.”
Mas além da utilidade, há arte. “O meme pode ser considerado uma forma de arte contemporânea. Ele traz à tona questões sérias com leveza. Há uma poesia na comédia.”
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