Drama cristão retrata história real exagerando no sentimentalismo 235ze
O filme "Fé para o Impossível", baseado numa história real, trata do interessante embate entre fé e ciência, mas se esvai pela falta de complexidade e estética edulcorada
Por Amilton Pinheiro, Especial para O Povo
Filmes brasileiros com temática cristã quase sempre conseguem ter um bom diálogo com o público, chegando em diversas salas de cinema e colhendo boas bilheterias. É o caso das produções espíritas, dos filmes do bispo Edir Macedo e os da igreja católica.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
“Fé para o Impossível”, do diretor Ernani Nunes, que vem da publicidade, chega apostando alto nesse bom diálogo, estreando em mais de mil salas de cinema de todo o País, número expressivo para uma produção nacional. Resta saber se terá êxito ou não.
O filme é baseado numa chocante história de violência cotidiana das cidades brasileiras, ao trazer o episódio envolvendo a família Murdoch. A esposa Renee Murdoch (Vanessa Giácomo), uma pastora e missionária americana, que morava desde 2000 no Brasil, juntamente com o seu marido, também pastor e missionário, Philip Murdoch (Dan Stulbach), foi brutalmente atacada com pauladas na cabeça enquanto fazia cooper na orla da Barra da Tijuca no começo de uma manhã de 2012. O agressor era um homem em situação de rua que estava tendo um surto esquizofrênico.
A mulher é socorrida e vai para um hospital público em estado grave com traumatismo craniano. Mãe de quatro filhos, dois adolescentes e duas crianças, seu caso ganha os noticiários. Seu marido, numa tentativa desesperada para salvar a mulher, já que os médicos não lhe dão muita esperança, começa a transmitir seu estado nas redes sociais na crença do poder de uma corrente de fé.
Confira o trailer de "Fé para o impossível": 5h35g
O filme traz esse interessante embate entre fé e Ciência. De um lado, o marido tornar-se um obsessivo na recuperação da esposa, acreditando piamente no seu pleno estabelecimento pela sua fé e pelas correntes de oração das pessoas que am a acompanhar o caso nas redes cosias. Do outro, a médica neurocirurgiã (Juliana Alves) que cuida do caso, quando o marido transfere sua esposa de um hospital público para um particular, mesmo colocando em risco sua vida, já que seu estado era gravíssimo.
O tempo todo o marido acredita que sua esposa voltará a vida normal, e o espectador embarca na jornada quase insana desse homem. Muito por conta do trabalho do ator Dan Stulbach que imprime o jorro de sentimentos difusos desse homem obsessivo, inclusive com os filhos e com os médicos que cuidam da sua esposa.
Tanto o elenco adulto, quanto os jovens e crianças que fazem os filhos do casal, cumpre bem a função de dar vida e sentido a essa família cristã às voltas com o enigma da fé.
Numa frase que pode ser atribuída a São Tomás de Aquino: “Para aqueles que acreditam, nenhuma prova é necessária. Para aqueles que não acreditam, nenhuma prova é possível”, no filme não há como contestar nem um lado, o dos que acreditam que a recuperação da esposa foi pela fé, nem do outro, que acreditam que ela foi salva pela Ciência, mesmo que esta não tenha como explicar satisfatoriamente o que foi feito.
O filme deixa de complexificar esse embate, tomando o lado da recuperação unicamente pela fé. Não aprofunda o que foi feito pela medicina, já que a esposa ficou internada no bom hospital particular e estava acompanhada de uma competente junta de médicos neurocirurgiões.
Numa cena, uma enfermeira que cuida da esposa, pede licença aos familiares e à médica presente para entoar um cântico gospel numa clara alusão de que será pela fé que aquela mulher irá se recuperar, o que é acompanhada pelos familiares.
Mas o problema maior do filme são as escolhas do diretor, que tem no currículo outro filme gospel, “No Ritmo da Fé” (Netflix). Ele opta por uma fotografia bem chapada, parecendo que estamos envolvido por filtros que deixam tudo clean, numa espécie de lugar protegido das coisas ruins do mundo.
O Rio de Janeiro não parece o Rio de Janeiro, não há sujeira, tudo parece que vem envolto por filtros protetores, que deixam a sensação para o espectador que estamos vivendo uma história de contos de fada.
Para piorar ainda mais a sensação de artificialismo da história, o diretor usa de forma excessiva a trilha sonora incidental, querendo manipular o sentimento do espectador nas cenas mais emocionantes. Como se elas por por si só não fossem suficientemente emocionadas, deixando esses momentos ináveis e edulcorados. Resta saber como o público abraçará essa história gospel.
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