Oscar: falta de letramento audiovisual é gargalo na escola brasileira

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A falta do letramento audiovisual e a inoperância do cinema dentro da escola como processo formativo "ainda estão aqui". Debate resurge após vitória do Brasil no Oscar
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Tipo Opinião

Texto de autoria do professor Bruno Marques*

Em meio ao merecido frisson causado pelo primeiro Oscar recebido pelo Brasil, trazido pela adaptação de Walter Salles ao livro homônimo - "Ainda Estou Aqui", de Marcelo Rubens Paiva - precisamos aproveitar os holofotes para discutir questões ligadas ao audiovisual nacional e sua eterna luta em ser autossustentável, ou pelo menos sair da eterna condição de formação de plateia.

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Partindo deste ponto é que perguntamos: e onde se forma essa tal plateia? Ora, onde mais podemos formar as pessoas? Na educação básica. Após assistir a obra, ei alguns dias - e também algumas noites - inquietado por estranhamentos.

O primeiro se deveu a quantidade de pessoas com o celular ligado no meio da exibição. E não era para ver se alguma mensagem importante havia chegado ou coisa do tipo. Era para ar o Instagram e ficar "rolando o feed" - uma grande bizarrice, que já anuncia a falta de letramento audiovisual que estamos vivenciando.

Perceber a razão estética de uma sala de cinema ter como único ponto de luz o próprio filme é sine qua non da sétima arte. Talvez por isso, todas as salas e filmes dão aqueles “sutis” lembretes para que o público desligue o celular.

Mas tudo bem, pode ser que, dessa vez, o cinema “esqueceu” de lembrar e as pessoas em questão também não sabiam desta etiqueta “cinematológica”. Até porque, quem ensinaria isso a elas, a escola?

Mas como tal instituição seria capaz dessa proeza diante de tanta coisa que já lhe é incubida ensinar: orações subordinadas, balanceamento de equações, períodos históricos, elementos químicos.

Em setembro de 2023, sob autoria do deputado federal Idilvan Alencar, foi apresentado o projeto de lei número 3342, que institui a Política Nacional do Audiovisual nas Escolas de Ensino Médio, públicas e privadas, em âmbito nacional, a ser financiada pelos ministérios da Educação e da Cultura.

Tal projeto de lei pretende, enfim, alavancar uma ação que já encontra-se, desde 2014, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/1996), que torna obrigatória a exibição de filmes de produção nacional na escola por, no mínimo, duas horas mensais.

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Em janeiro de 2024, dentro da 27ª Mostra de Cinema de Tiradentes, foi realizado o II Fórum de Tiradentes com o objetivo de reunir pessoas de diversos segmentos do audiovisual brasileiro para o diagnóstico dos pontos críticos da atividade.

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Deste encontro, foi produzida a Carta de Tiradentes, que, dentre vários pareceres, recomenda a urgente regulamentação da Lei Número 13.006/14, bem como a formação audiovisual em todos os níveis de ensino formal e informal e o o ao audiovisual como direito fundamental de todos os brasileiros.

No mesmo ano, a 19ª Mostra de Cinema de Ouro Preto (ou simplesmente CINEOP, realizada em junho de 2024, também em Minas Gerais), dedicou uma parte do encontro a temática da educação, contando com duas mesas redondas de âmbito internacional, duas sessões de filmes, quatro sessões de projetos audiovisuais educativos, debates e reuniões de trabalho da Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual.

A programação estava organizada em torno de grupos de trabalho cujo objetivo era a elaboração de diretrizes e recomendações para a criação de políticas públicas que venham a subsidiar o contato de educadores, por crianças, da educação infantil ao ensino fundamental e jovens, do ensino médio, com as imagens e os sons de forma a garantir a qualidade social dessa experiência.

Regulamentação do audiovisual em escolas brasileiras é tema de debate no setor s5r65

O interesse do setor audiovisual na regulamentação de um Plano Nacional de Cinema das Escolas tem pontos de tensão que devem ser analisados com maior atenção.

Pois, apesar dos esforços em estreitar o diálogo com a educação, a indicação de Patrícia Barcelos, diretora de políticas e regulação da educação profissional e tecnológica do Ministério da Educação (MEC), para ocupar uma vaga na direção da Agência Nacional do Cinema (Ancine), em setembro de 2024, gerou questionamentos por parte da Associação Brasileira de Cineastas (Abraci) e da Associação Paulista de Cineastas (Apaci).

Apesar da servidora indicada integrar, desde 2023, o Conselho Superior do Cinema e participar também do Comitê Gestor do Fundo Setorial Audiovisual, o nome não agradou ao setor que pede “um(a) profissional que possua vivência e experiência comprovada no mercado audiovisual brasileiro”.

Abre-se então o questionamento sobre qual o olhar que o setor audiovisual tem deste diálogo entre o cinema e a escola. Seria essa aproximação uma ação afirmativa sobre a grandeza do audiovisual como processo criativo e recurso didático, ou apenas uma possibilidade de formação de plateia e expansão de mercado?

De certo é que, enquanto os setores produtivos e formativos discutem entre si, a falta do letramento audiovisual e a inoperância do cinema dentro da escola como processo formativo “ainda estão aqui".

Bruno Marques tem mestrado profissional em Ensino de História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, é especialista em Gestão Escolar pela Universidade Cândido Mendes e em História do Brasil e Ceará pela Faculdade de Tecnologia e Educação Darcy Ribeiro. Graduado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, tem formação complementar em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará e em istração pública pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Atua como professor em cursos preparatórios para certames na área de Educação. É professor efetivo da rede estadual de educação do Ceará e já atuou como superintendente escolar e coordenador escolar.

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