Cannes: da praia ao mangue, Fortaleza se apresenta na França
Com tutoria de Karim Aïnouz, projeto "Factory Ceará Cannes" inaugurou programação de Cannes com quatro curtas-metragens produzidos no Ceará
“Acredito que isso funciona também como um arquivo para o futuro porque estamos vendo pessoas negras e transgênero, em um faroeste contemporâneo, vencendo. Elas não estão morrendo”, disse Ary Zara (Portugal) no palco do Théâtre Croisette para apresentar “A Vaqueira, a Dançarina e o Porco”, filme que codirigiu com Stella Carneiro (Brasil, Alagoas).
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A obra é uma das quatro produzidas no projeto “Factory Ceará Brasil”, parceria direta entre a Quinzena dos Cineastas, grande mostra paralela do Festival de Cannes, com o Governo do Estado do Ceará. A ação reuniu cineastas brasileiros e internacionais para uma coprodução criativa. Apesar das diferentes regiões e nacionalidades, todos os filmes foram produzidos e filmados no Ceará.
Os outros filmes foram A Fera do Mangue, de Wara (Ceará) e Sivan Noam Shimon (Israel); Ponto Cego, de Luciana Vieira (Ceará) e Marcel Beltrán (Cuba); e Como Ler o Vento, de Bernardo Ale Abinader (Amazonas) e Sharon Hakim (França).
Presente no evento, Luisa Cela, secretária de cultura do Ceará, reforçou o significado simbólico e prático dessa estreia acontecer justamente no ano em que o Brasil foi declarado o “País de Honra” da Marché Du Film, maior evento de mercado audiovisual do mundo.
Tutor do projeto, o cineasta cearense Karim Aïnouz não subiu no palco na apresentação dos filmes, deixando que o protagonismo do momento ficasse com os realizadores. Após a sessão, uma breve conversa foi mediada para que eles compartilhassem sobre a experiência de produzir os filmes em conjunto, apesar das duplas nunca terem trabalhado juntas antes.
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“A primeira vez que eu estive em Cannes foi em 1997 com o roteiro de ‘Madame Satã’ para tentar que alguém quisesse produzir. É muito lindo estar voltando agora em 2025 sendo facilitador de projetos de jovens realizadores que vão encontrar potenciais parceiros aqui”, concluiu Karim Aïnouz para celebrar o momento.
Sobre os filmes em si, é inevitável perceber a força que eles têm quando assistidos em sequência e, especificamente, por alguém que conhece Fortaleza. Isso porque cada filme aponta sua câmera para uma parte diferente do mapa, construindo uma espécie de mosaico sensorial sobre sua identidade: Praia, Centro, Dunas e Mangue surgem como sonhos delirantes de uma mesma cidade.
Atrizes recorrentes do cinema cearense peram as obras, como Ana Luiza Rios (Mais Pesado é o Céu), Jennifer gley (Represa), Amandyra (Greice) e Jupyra Carvalho (Motel Destino). Ao fim da sessão, o mais surpreendente não é tanto a sinergia entre realizadores tão diferentes, mas a forma como, mesmo com essa distância, Fortaleza é que é mesmo a grande protagonista.
O 78º Festival de Cannes segue até o dia 24 de maio com cobertura exclusiva do O POVO.
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