Dor de dente? Pode ser consequência da evolução de um peixe de 500 milhões de anos atrás
Estudo revela que dentes evoluíram há 500 milhões de anos não para mastigar, mas como sensores, explicando sua alta sensibilidade à dor e ao frio
Por que os dentes são tão sensíveis à dor ou às bebidas frias? Poderia ser porque evoluíram, há 500 milhões de anos, para um propósito muito diferente do de mastigar, sugere um estudo publicado nesta quarta-feira, 21, na revista Nature.
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A origem exata dos dentes e sua verdadeira função têm sido há muito tempo uma incógnita para os cientistas.
Acredita-se que seus precursores evolutivos sejam estruturas duras chamadas de odontoides, que não apareceram na boca, mas na camada externa dos primeiros peixes, há cerca de 500 milhões de anos.
A origem misteriosa dos dentes
A verdadeira origem dos dentes e sua função inicial são temas que há muito intrigam os cientistas. Acredita-se que os precursores dentários sejam estruturas duras chamadas odontoides, que não surgiram na boca, mas na camada externa dos primeiros peixes, datando de cerca de 500 milhões de anos atrás.
Mesmo hoje, espécies como tubarões, arraias e peixes-gato ainda apresentam dentes microscópicos espalhados pelo corpo, conferindo à pele uma textura áspera, semelhante à de uma lixa.
Para que serviam os odontoides?
Diversas teorias tentam explicar a utilidade original dos odontoides. Algumas sugerem que serviam como proteção contra predadores, ajudavam na locomoção aquática ou funcionavam como reservatórios de minerais.
O novo estudo da Nature, porém, apoia uma hipótese menos óbvia, a de que essas estruturas agiam como órgãos sensoriais, transmitindo estímulos aos nervos.
Curiosamente, a autora principal do estudo, Yara Haridy, da Universidade de Chicago, não estava, inicialmente, buscando a origem dos dentes. Seu foco era uma questão ainda debatida pela paleontologia: qual seria o fóssil de vertebrado mais antigo?
Para isso, Haridy solicitou a museus dos Estados Unidos centenas de espécimes fossilizados — alguns minúsculos, do tamanho de uma cabeça de alfinete — que foram analisados com scanners de alta precisão.
Ela ou a investigar a dentina, a camada interna dos dentes, responsável por transmitir informações sensoriais aos nervos da polpa.
Anatolepis: um equívoco evolutivo
Um fóssil do período Cambriano, chamado Anatolepis, parecia inicialmente ser a chave para responder à pergunta. Seu exoesqueleto possuía poros sob os odontoides, conhecidos como túbulos, que indicavam possível presença de dentina.
Isso levou paleontólogos a classificarem o Anatolepis como o primeiro peixe conhecido.
No entanto, ao comparar o fóssil com outros espécimes, Haridy percebeu que os túbulos se assemelhavam muito mais às sensilas, estruturas sensoriais encontradas em artrópodes, como crustáceos e insetos. Isso levou à reclassificação do Anatolepis como um invertebrado.
Nos artrópodes modernos — como caranguejos, escorpiões e aranhas — as sensilas têm funções variadas:
- Detectar temperatura,
- Vibrações
- Odores.
A semelhança dessas estruturas com as observadas no Anatolepis sugere que tais funções sensoriais existem há meio bilhão de anos.
Similaridades com peixes atuais
Segundo Haridy, experimentos com peixes modernos mostraram a presença de nervos nos dentes externos de peixes-gato, tubarões e arraias. Isso demonstra que os odontoides, mesmo fora da boca, podem ser sensíveis.
“O tecido dentário dos odontoides externos pode ser sensível, e talvez os primeiros odontoides também fossem”, explicou à AFP.
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Apesar de terem evoluído separadamente, os artrópodes e os primeiros vertebrados parecem ter desenvolvido soluções sensoriais semelhantes para responder a desafios biológicos e ambientais comuns.
Com o tempo, os peixes desenvolveram mandíbulas, e ou a ser vantajoso ter estruturas pontiagudas próximas ou dentro da boca. Assim, os antigos sensores deram lugar aos dentes que conhecemos hoje.
“Uma dor de dente é, na verdade, uma característica sensorial ancestral que pode ter ajudado nossos ancestrais peixes a sobreviver”, conclui Haridy.